Por Jota Alves
Está ficando chato festejar Santo Antônio, São João e São Pedro tendo que seguir regras impostas pelas “otoridades” ao povo “miúdo”, mesmo que nobres sejam as causas das imposições do povo de “dentadura”.
São João não é como antigamente e nem nunca será. Não precisa espiar muito longe no retrovisor para enxergar que a alegria dos festejos não é mais a mesma. Basta vê como estamos sem as fogueiras acesas na boquinha da noite, alinhadas em cada porta, no terreiro de chão batido.
É proibido ascender fogueira para o santo e quem insistir pode ir em cana. A fumaça é prejudicial para quem sofre de doenças respiratórias. Também será vigiado e pode sofrer uma “massada” o sujeito que for pego soltando bomba na rua. Fogos agora, só se não fizer zuada. Prejudica os cães, que têm hiper sensibilidade auditiva, e é horrível para pessoas diagnosticadas com autismo.
Os tempos mudaram e nós precisamos nos adaptarmos. Não é porque a brincadeira é boa para uma parcela da sociedade, que temos de atropelar os interesses da minoria. A boa convivência em sociedade é tarefa a ser superada cotidianamente e nos festejos juninos não é diferente.
Eu gosto de Santo Antônio um bocado. Eu gosto de São João e de São Pedro que só. Na qualidade de nordestino de cabeça chata, se pudesse e o dinheiro desse, tirava o mês inteiro nas latadas, no forró de trio, comendo milho assado e derivados da matéria prima.
No meu tempo de menino existia um ritual na véspera de São João. Logo cedo, meu pai, Zé Clementino, me acordava ainda na madrugada, botava o pé na estrada a caminho do roçado e só retornava perto das 11h carregado de milho. O saco era pesado, mas carregava com gosto. No meio da cozinha a meninada descascava um tanto generoso de espigas, minha mãe, Maria José, comandava os trabalhos.
Na noite de São João era sagrado encher o bucho de comida de milho. A mesa era farta. No terreiro a fogueira era montada perto das 4 da tarde. Já de banho tomado, com a roupa nova no couro e de bucho cheio, às 6 da noite a fogueira era acesa. O meu São João era cheio de graça com a simplicidade de quem sempre teve pouco e valorizava muito.
Dizer que o São João perdeu a graça é exagero. Nós continuamos a festejar em certa medida, enfeitamos as casas, as ruas com bandeiras coloridas e dançamos o forró sanfonado aqui a acolá. Mas que dá uma saudade daqueles do passado, ah se dá!
Jota Alves é radialista com passagens pelas rádios Constelação FM e Rural AM de Guarabira, Tabajara de João Pessoa e jornais Folha do Brejo e Jornal da Paraíba. Atualmente é editor e articulista político do Portal 25 Horas.
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