
O movimento grevistada UEPB, que já dura o bastante para comprometer seriamente a vida estudantil de alguns milhares de jovens, foi decretado num rompante. O que ele tem de diferente é o fato de acontecer no início do reitorado do professor Rangel Júnior, eleito com larga margem sobre os seus principais adversários e apoiado pela ampla maioria de todos os segmentos acadêmicos.
É como se o novo reitor,tão pouco tempo depois de empossado e principal interlocutor na conversa com o Governo do Estado, estivesse sendo desautorizado a conduzir o diálogo institucional com o Governo. É no mínimo uma contradição e é por isso que custo a acreditar na seriedade e na representatividade do movimento paralisação das aulas e das atividades administrativas na Universidade Estadual.
E porqueentão persiste a greve? A equação é simples, um único professor que deixa de dar aula em um dia manda para casa centenas de alunos. O ônus com transporte e alimentação faz com que muitos passem a aguardar em casa o anuncio do fim da paralisação e isso não significa que aderiram à greve. Quem na realidade move a paralização é uma “banda” que, em número, está muito longe de significar a metade. Barulhentos, inconsequentes e sem ossatura ideológica, aspiram apenas o vil metal,fazendo do desejo de inchar os próprios salários o principal objeto de luta. Um deles chegou a declarar a uma emissora de TV do Estado que a sua parte mais sensível era o bolso. Gente desse tipo, obviamente, não representa a maioria dos professores e funcionários.
Não sou contra a luta por melhores salários, desde que essa luta não represente a paralisação das aulas. Não sei que tipo de risco econômico que justifique uma greve, pode estar correndo um professorque percebe salário acima de R$ 12.000,00, maior inclusive do que aqueles pagos a cargos correlatos na UFPB. Tomo a UFPB como paradigma apenas no que diz respeitoà questão salarial. Tive notícia, através dos estudantes deque alguns professores sequer respeitam o regime de dedicação exclusiva em tempo integral. Vendem cinco ou seis aulas por mês à Universidade a preço de verdadeiras conferências.
Sou pai de aluno e vizinho do Centro de Humanidades de Guarabira. Recebiem meu e-maildurante esta semana e a que passou, reiterados convites para participar de supostas atividades de greve. Compareci a alguns locais indicados nos tais convites e era tudo um engodo, uma mentira.
É angustiante ver a Universidade, fórum natural das grandes discussões, inclusive a respeito das questões que envolvem a própria comunidade acadêmica,inerte como um imenso elefante branco, incapaz de dar as respostas que ela deveria possuirprioritariamente, serealmenteconseguisse ser núcleo pensante que se pretende.
Os lideres do motim do Campus III são velhos conhecidos. São os mesmos que numa madrugadinha, como que por descuido e para servir interesses inconfessáveis, planejaram fechar o campus de Guarabira, mas foram impedidos a tempo.Amoitados, novamente, espreitam a próxima eleição para diretoria de centro, como se a comunidade acadêmica e a cidade tivesse esquecido esta triste página. Estes que desservem a causa do Centro de Humanidades estão, na sua maioria, instalados no curso de história em Guarabira e já se inscreveram como personas non gratas na historia da cidade.
Sinto-me incomodado quando vejo meu filho e tantos outros estudantes que conheço, em casa, sem aulas, vítimas de uma queda de braços que não lhes pertence. Écomo se um grupo de professores, repito, longe de representar o desejo de todos os envolvidos neste cenário,tivesse o condão de atrasar o relógio das vidas desses milhares de jovens.
E não me venham com a desgastada cantilena de que a luta é pela autonomia da Universidade. Muito do que há por trás do vociferado discurso de alguns éo desejo velado de transformar a Universidade, detentora de fatia preponderante do orçamento estadual, em um estado dentro do Estado.
Menos convincentes são alguns“líderes” grevistas quando falam em produção cientifica. Enchem a boca de ensino, pesquisa e extensão. Visitando o currículo Lattes de alguns deles, documento público e postoà disposição de quem queira conferir, o que se vê, na realidade, são suaspífias atuações como membros da academia, muito abaixo do mínimo desejável, embora melhor remunerados, repito, que os docentes das Universidades Federais. Pude identificar no Lattes que, em alguns casos, há mais de uma década, muitos dos mestres e doutoresda UEPB não produziram um parágrafo sequer, quando mais publicaramartigo ou livro. Porém, querem mais salário e menos gente importunando, ou seja, exigindo deles a justa contrapartida como professores.Seria esta a autonomia desejada?
Meu receio é que ao término da paralisação, nada aconteça além de uma grande “pizza”; seria um mês ou mais de férias,bancados por mim e pelosdemais contribuintes,para a alegria e festa da tal banda do vil metal. No caso dos alunos, o prejuízo já é irrecuperável, pois significa tempo subtraído do curso normal dasvidas.
Alexandre Moca