O secretário Estadual de Cultura, disse que o prefeito de Guarabira, Zenóbio, não é afeito ao diálogo e ainda que o mesmo quer fazer dos cordelistas “Bucha de Canhão”.
As declarações do secretário estão num artigo que o mesmo publicou uma sua página pessoal no facebook e referem-se à polêmica da expulsão dos artistas da “Casa da Cultura”, prédio pertencente ao Estado, pelo prefeito e pelo vice Joisé Antonio de Lima, Zé do Empenho, o qual executou a ordem.
“O Memorial do Cordel deveria ser um instrumento de boas ações e não um palco de enfrentamentos. O que sobra em truculência falta em bom senso”, afirmou Lau Siqueira. Abaixo, a íntegra do artigo:
Memorial do Coronelismo
Segunda-feira passada o Prefeito de Guarabira, Zenóbio Toscano (PSDB), nos procurou para, supostamente, tratar dos conflitos entre a Prefeitura e os artistas da cidade na Casa da Cultura de Guarabira. Entretanto os fatos mostram que ele não queria negociar nada. Queria apenas me comunicar uma decisão personalista, arbitrária e ilegal. Não quero aqui deixar de reconhecer que o prefeito reabriu os equipamentos culturais da cidade. Apesar de fazer isso com extrema precariedade. Reconheço, não de hoje, sua busca de afinidade com a cultura. Ou melhor: com alguns setores, com alguns artistas. Também reconheço como legítima sua proposta de criar o Memorial do Cordel. O problema não é o conteúdo, mas a forma. Não é possível admitir sua prática autoritária, truculenta e excludente.
Em 2013 a prefeitura assinou um Termo de Comodato (que expira em meados de 2016) com a SECULT. A SECULT repassaria o prédio para a Prefeitura. Todavia começaram aí os conflitos com a classe artística local. De lá para cá, a falta de habilidade do prefeito para o diálogo com os artistas da sua cidade vem provocando constrangimentos constantes. Essa “meia dúzia” como ele se refere. Ocorre que essa “meia dúzia” é nada menos que a Associação de Arte e Cultura de Guarabira, uma instituição respeitável do Fórum de Cultura do Brejo paraibano.
Antes de negociar com a SECULT o prefeito deveria ter negociado com os artistas que ocupavam a Casa e com a Articulação Regional da SECULT. Mas, parece que ele não gosta mesmo é de negociar. No final de 2013 assumi a presidência da FUNESC, órgão vinculado à SECULT. Estive duas vezes em Guarabira conversando com artistas e gestores da região. Inclusive com ele. Me coloquei à disposição para intermediar uma saída para o impasse. Para minha surpresa, no dia seguinte ele, simplesmente mandou arrombar a Casa e trocar os cadeados. Não se poderia esperar outra reação dos artistas e produtores culturais de Guarabira. Mobilizados, retornaram e ocuparam o local. Há poucas semanas, com base no Termo de Comodato, o prefeito voltou à cena com uma liminar e com a polícia para retomar o espaço. Semanas antes esteve conversando comigo, mas ESTRANHAMENTE sequer tocou no assunto. Depois de um ano sem que a prefeitura acenasse interesse pela Casa, começamos a planejar ações para a Casa da Cultura. Diante da liminar obtida pela prefeitura, em respeito à Justiça os artistas se retiraram. Mas, a SECULT entrou em cena. Achei demais aquilo tudo. Afinal, antes de qualquer termo assinado pela Prefeitura e pela SECULT, se trata de um equipamento público. Ou seja: O PRÉDIO É UMA PROPRIEDADE COLETIVA DOS ARTISTAS DE GUARABIRA E DO BREJO. Lamentavelmente o prefeito traz consigo a mentalidade do velho e surrado coronelismo. “Eu posso. Eu quero. Eu faço. ” Enfim, o poder acima da lei. Sensibilidade zero.
Mas, voltemos aos fatos. Após a liminar, encaminhamos notificação extrajudicial ao prefeito rompendo o comodato com base em um artigo do próprio Comodato. O prazo para a SECULT retomar o prédio expira no próximo dia 7. Supostamente foi este foi o motivo da sua visita. Entendemos que nascendo do conflito e da politicagem sórdida, o Memorial já nasceria contaminado e perderia sua grandeza. A memória de Leandro Gomes de Barros, Zé da Luz, Manoel Monteiro e outros grandes cordelistas paraibanos não merece esse tipo de afronta. O Memorial do Cordel deveria ser um instrumento de boas ações e não um palco de enfrentamentos. O que sobra em truculência falta em bom senso.
Para comprovar que o prefeito não é afeito ao diálogo, externamos nossa posição também verbalmente. Solicitei que ele dialogasse com os artistas. Disse que respeitaria o que fosse negociado com a AACG. Mesmo de posse da notificação e ouvindo da minha boca a intenção de extinguir o comodato caso não houvesse negociação com os artistas, o Prefeito me disse (de forma um pouco raivosa) que no próximo sábado iria inaugurar o Memorial do Cordel no espaço da Casa da Cultura (que repito: é do Estado). Dito e feito: está aí divulgação em anexo. Certamente quer erguer um monumento triste. Cheio de ódio. Cheio de ressentimentos. Um ambiente de disputa política e não de arte e cultura. Estamos vivendo um espetáculo mesquinho, medíocre, onde Sua Excelência tenta colocar os cordelistas em choque com os artistas de Guarabira. Perdido, ele quer fazer dos cordelistas “bucha de canhão” para sua estranha batalha. Declaramos aqui e a quem quer que seja, QUE A CASA DA CULTURA, POR FORÇA DO DIREITO E DA LEI, IRÁ SER DEVOLVIDA AOS ARTISTAS EM BREVE. Já tomamos as providências legais. O único documento que permitiria a permanência do comodato, já foi formalmente rompido e o prefeito devidamente notificado. Apoiamos a criação do Memorial do Cordel, mas não admitimos que os artistas de Guarabira e a Articulação Regional da SECULT, sejam colocadas no olho da rua. Não admitimos que o Cordel, uma expressão de tamanha relevância, seja tratado como instrumento partidário do velho coronelismo.
Sei que o Prefeito é um político tradicional, poderoso. Não tenho votos para trocar com ele. Nem quero. Sou apenas um escritor que, momentaneamente, ocupa a Secretaria de Cultura do Estado. No entanto, expressoa nossa solidariedade aos artistas de Guarabira! Desejo civilidade ao prefeito. Que ele respeite às multidões de “meia dúzia” que cercam cada artista.
Lau Siqueira
Secretário de Estado da Cultura da Paraíba
P S – Lembro ao prefeito uma frase do ex-governador Wilson Braga: “artista não dá voto, mas tira”
Fonte: Nordeste1