MÓRBIDA OBSESSÃO
Há uma agenda estratégica bisonha entre políticos e jornalistas paraibanos: identificar sintomas, sinais, pistas, indícios e referências do rompimento entre o governador Ricardo Coutinho (PSB) e o senador Cássio Cunha Lima (PSDB). Mais que uma agenda, é uma espécie de necromancia, ciência irracional que se quer oráculo, força divinatória capaz de iluminar e antecipar atos futuros, formalizar o que ainda não aconteceu, concretizar nos desvãos de uma realidade hipotética um conflito que pode até nunca ocorrer.
É certo que é da arte da política a especulação. É projetando cenários possíveis que se traça a melhor rota para conquistar consciências aptas a operar na matemática simples do voto a construção dos nichos de poder.
A especulação em política é a exploração em campo teórico de possibilidades remotas e factíveis. Com esse proceder, dá para mensurar supostas perdas e ganhos a partir de determinadas escolhas. É justo, portanto, e positivo, que a análise política recorra a tal artifício para explorar os ângulos possíveis de observação do fenômeno político-eleitoral.
Mas o que está acontecendo atualmente beira o ridículo. Se Ricardo Coutinho diz que prefere suco de graviola ao de laranja ou de limão, as cartomantes do delírio imediatamente deduzem: ele disse laranja e limão, Cássio tem “lima” no nome, então Ricardo está demonstrando claramente com essa rejeição que a aliança com Cássio não lhe interessa mais.
Aí, no outro dia, Cássio comenta que gostou do filme “Invasão à Casa Branca”. Pronto: logicamente ele foi assistir a esse filme porque pretende invadir novamente o Palácio da Redenção e desalojar Ricardo definitivamente. A coisa está nesse pé.
Obviamente, alianças políticas nascem com prazo de validade limitado pelos interesses dos protagonistas. Aliança o é uma razão em si. No caso em discussão, Cássio precisava de Ricardo para gerar um novo espaço de atuação já que vinha de um cenário poluído por várias cassações. Ricardo queria os votos que Cássio seria capaz de transferir. Agora, podem partir para outra história. Ou não. Precipitar o rompimento se transformou na mórbida obsessão de um punhado de estressados. Vamos dar tempo ao tempo, gente. O que tiver de ser, será.
Walter Galvão – editor do Correio da Paraíba (18/04/2013)