O teólogo Leonardo Boff afirmou nesta segunda-feira que o papa Bento 16 “foi digno” ao anunciar que vai deixar o comando da Igreja Católica em 28 de fevereiro . “A renúncia do papa é um ato de razoabilidade. Humildemente deu-se conta dos limites da natureza que o impediam de exercer sua função”, disse em seu perfil no Twitter.
Expoente da Teologia da Libertação, o então franciscano Leonardo Boff foi expulso da Igreja Católica nos anos 90 após ser alvo de processo liderado por Joseph Ratzinger, quando ele era o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano. Hoje diz não guardar mágoas: “Se há uma coisa que não guardei foi mágoa e muito menos revanchismo. A ignorância nunca fez bem a alguém”.
Os dois se conheceram muitos anos antes em Munique, na Alemanha, onde Ratzinger já era um professor renomado da universidade e Boff um jovem franciscano que preparava sua tese de doutorado e assistia às conferências do teólogo.
Daquela época, Boff define Ratzinger como um pastor e professor extremamente erudito e de fácil acesso. “Era pessoa simples que, ao se tornar cardeal, mudou de comportamento e passou a assumir posições duras. Tratava com luvas de pelica os bispos conservadores e com dureza teólogos da libertação que seguiam os pobres”.
No entanto, ele faz a distinção: “Uma coisa é o Ratzinger professor e acadêmico, que era extremamente gentil e inteligente, além de amigo dos estudantes. Dava metade do salário aos estudantes latinos e da África. Outra coisa é o Bento 16, que exerce função autoritária e centralizadora, sem misericórdia com homossexuais e [adeptos da] camisinha”, disse Boff.
Boff disse não ter recebido com surpresa a notícia de que o papa Bento 16 deixará o posto, e que já sabia que ele vinha tendo problemas de saúde que o comprometiam física e psicologicamente para exercer o ofício.
“Recebo com naturalidade essa notícia. Essa decisão segue sua natureza objetiva. Não é praxe um papa renunciar. Ele desmistificou a figura do papa, que geralmente ficam [no cargo] até morrer. Provavelmente por entender o papado como um serviço. Essa atitude merece toda admiração e respeito. Esperamos, agora, que até a Páscoa, em meados de março, elejam um novo papa. De preferência um papa mais aberto. Até porque 52% dos católicos vivem no terceiro mundo e não mais na Europa”, completou.
Agência Brasil